Um dia

Tenho todas as tuas palavras esculpidas na minha memória. Uma a uma, pela ordem correcta. Com o tom de voz certo, com a entoação do momento, com o significado que eu lhes quis dar. Tenho o toque das tuas mãos gravado a fogo na minha pele. A marca das teus dedos, a tua impressão digital, a tua delicadeza. Tenho o teu cheiro misturado com o meu. Suave e persistente. Tenho o teu olhar fixo no meu. Falso, sincero, impenetrável. Tenho a tua ausência dentro de mim. Não me perguntes porquê. Essa é uma pergunta que ainda vais colocar a ti próprio. Um dia. No dia em que já não recorde as tuas palavras, em que a minha pele já não tem as marcas da tua, em que o teu cheiro já não se distingue dos outros, em que do teu olhar vou recordar apenas que não era para mim.