terça-feira, novembro 28, 2006

Inimaginável - parte V

Decidi parar. Decidi parar no momento em que deixei de ouvir os teus passos atrás de mim. Decidi virar-me. Quando precisei de saber se ainda estavas ali. Decidi olhar-te nos olhos. Porque queria ver reflectidos neles o meu desejo. Inverteste os papéis e agora sou que te procuro. Avanço alguns passos na tua direcção, páro à tua frente. E fico ali, a gozar a antecipação, a lamber os bigodes em silêncio. Tu ouves-me?

1 comentário:

Anónimo disse...

E o raio da perna presa e a cãimbra que não lhe passa e a porta do elevador quase a fechar-se e ela que se vira, que recua e que o olha quase em desafio. (Ainda estou aqui). E ele, entre o encantado e o perplexo, a ver o seu desejo reflectido neles. E ele a recuar no tempo, a um tempo em que se atingiam simplesmente através do despertar recíproco de desejos e emoções. A uma tempo de pavio curto e altamente inflamável, nem sempre harmonioso, de deflagrares súbitos e recíprocos de atracção e paixão, de despertares do coração e do corpo, de vida, energia e emoção. (Mesmo que por meio do conflito). Ela assim, sempre com este temperamento volúvel, romântica e cheio de imaginação, ele instintivamente à vontade diante da sua refinada imaginação e profundidade emocional. E agora ali, ela de novo a afrontá-lo e ao seu destino banal, a exigir-lhe uma regresso involuntário às exigências de um amor que superasse a realidade, que trouxesse sentido e aventura às suas vidas. E ele ali, pragmático e já distante dos contos de fada onde os sentimentos, as intuições e a realidade interior têm muito mais importância que as exigências do mundo material.



É claro que não te ouço. Achas que alguém ouve o olhar?